Rastreamento câncer colorretal: critérios e exames
O rastreamento do câncer colorretal é uma intervenção comprovada para reduzir mortalidade e detectar lesões precursoras. Com mudanças epidemiológicas recentes — aumento de casos em idades mais jovens — as diretrizes divergem sobre quando e como iniciar a triagem. Neste texto, voltado a profissionais de atenção primária, reviso critérios de indicação, opções de exames e como aplicar a decisão compartilhada na prática clínica.
Por que rastrear?
Rastreamento eficaz reduz a incidência e a mortalidade por câncer colorretal ao identificar adenomas e neoplasias em estágio inicial. Estudos populacionais e diretrizes internacionais demonstram benefício claro em populações de risco médio, embora a idade de início e a estratégia ideal variem entre organizações.
Exemplos de recomendações recentes: a American Cancer Society (ACS) passou a recomendar início aos 45 anos em risco médio, enquanto o American College of Physicians (ACP) mantém 50 anos como ponto de partida, baseado em avaliação de relação benefício/risco por faixa etária. Para leitura direta das recomendações, consulte os posicionamentos da ACS e do ACP, e revisões de diretrizes globais disponíveis na BVS (revisão de literatura).
Critérios de indicação e estratificação de risco
A estratégia inicia pela estratificação em risco médio ou elevado. Pontos-chave:
- Risco médio: indivíduos assintomáticos sem história pessoal ou familiar significativa de adenomas/câncer colorretal, sem doenças inflamatórias intestinais. Idade de início: 45–50 anos (dependendo da diretriz adotada) até 75 anos, com avaliação individualizada entre 76–85 anos.
- Risco elevado: história familiar de câncer colorretal (especialmente primeiro grau com diagnóstico precoce), síndromes hereditárias (p. ex. Lynch), história pessoal de adenomas avançados, ou doença inflamatória intestinal de longa data. Esses pacientes devem iniciar rastreamento mais cedo e com intervalos diferentes e encaminhamento para gastroenterologia quando indicado.
Para protocolos práticos e fluxos na atenção primária relacionados à tomada de decisão, veja o material sobre rastreio com decisão compartilhada e sobre manejo de doenças inflamatórias intestinais, que alteram a indicação de vigilância.
Escolha dos exames de rastreamento
Selecione a modalidade com base em evidência, disponibilidade, adesão esperada e riscos. Opções comuns:
Testes de fezes
- FIT (teste imunoquímico fecal): sensível para sangramento oculto, sem preparo dietético; indicado anualmente. Boa aceitação e custo-efetividade na atenção primária.
- FOBT (guaiaco): menos usado que o FIT; realiza-se anualmente e exige instruções alimentares/medicamentosas.
- Testes de DNA fecal: maior sensibilidade para lesões significativas, porém custo mais elevado e disponibilidade variável; quando positivo, encaminhar para colonoscopia.
Exames endoscópicos e de imagem
- Colonoscopia: padrão-ouro para diagnóstico e remoção de pólipos; intervalo típico a cada 10 anos em risco médio quando normal. Indicado como exame confirmatório após FIT/FOBT positivo e em rastreamento primário quando disponível e aceito pelo paciente.
- Sigmoidoscopia flexível: menos abrangente que colonoscopia; intervalo em torno de 5 anos dependendo do protocolo adotado.
- Colonografia por TC: alternativa quando colonoscopia não é possível; exige preparo e, se identificadas lesões, exige-se colonoscopia terapêutica subsequente.
Diretrizes e revisões discutem vantagens/limitações de cada estratégia e seu impacto na mortalidade; um resumo comparativo ajuda na escolha local e está disponível em materiais sobre colonoscopia e alternativas e em protocolos sobre indicação de colonoscopia.
Tomada de decisão compartilhada: como aplicar
Decisão compartilhada é central: equacione evidências, riscos, preferências e contexto do paciente. Passos práticos:
- Explique objetivo do rastreamento (prevenção versus detecção precoce) e as opções disponíveis no serviço.
- Discuta benefícios esperados (redução de risco/diagnóstico precoce) e potenciais danos (complicações da colonoscopia, resultados falso-positivos/negativos, ansiedade).
- Considere comorbidades, expectativa de vida e adesão — p. ex., em pacientes frágeis, optar por não rastrear pode ser razoável.
- Use linguagem clara, ofereça folhetos ou ferramentas visuais e registre a escolha. Para estruturas e exemplos de diálogo, consulte recursos de atenção primária sobre decisão compartilhada e rastreamento.
Fluxo prático na atenção primária e seguimento
Proposta simples de fluxo:
- Identificar elegíveis no prontuário (idade/fatores de risco) e convidar para rastreamento.
- Se FIT/FOBT positivo → encaminhar para colonoscopia em tempo adequado; cautela com anticoagulantes/antiplaquetários conforme protocolo local.
- Se colonoscopia com pólipos → seguir recomendações de vigilância baseadas em tipo e número de adenomas.
- Manter sistema de recall e monitorar cobertura e taxas de adesão; intervenções para melhorar adesão (mensagens, coleta domiciliar de FIT) aumentam efetividade do programa.
Cancelas e evidências
Lembre-se que diferentes diretrizes de rastreamento podem coexistir; escolha a política institucional com base em recursos, população atendida e evidência mais recente. Para fundamentar discussões com pacientes, use fontes confiáveis (ACS, ACP e revisões em bases como BVS) integradas à prática local.
Fechamento: orientações práticas
- Estratifique risco antes de oferecer rastreamento; adote um protocolo local claro (idade de início, exames disponíveis, intervalos).
- Priorize testes de fezes (FIT) quando a colonoscopia em massa não for viável; assegure encaminhamento rápido após resultado positivo.
- Pratique a decisão compartilhada: documente preferências, explique riscos/benefícios e adapte o plano à expectativa de vida e comorbidades.
- Eduque a equipe e implemente lembretes eletrônicos para aumentar cobertura e qualidade do rastreamento.
Leituras recomendadas: posicionamentos da American Cancer Society, do American College of Physicians e revisões disponíveis na BVS. Para materiais práticos e fluxos na atenção primária, veja os artigos relacionados no nosso blog sobre rastreamento e indicação de colonoscopia.