Vacinação em adultos imunossuprimidos: esquemas e segurança
Introdução
Por que a vacinação é prioridade em pacientes com imunossupressão? Indivíduos com doenças autoimunes, HIV, em tratamento oncológico ou em uso de medicamentos imunossupressores apresentam maior risco de infecções graves e de complicações — logo, a vacinação e a imunização adequada são intervenções preventivas essenciais. Este texto oferece orientação prática para profissionais de saúde sobre esquemas recomendados, reforços e segurança.
1. Princípios gerais e avaliação pré-vacinação
Antes de vacinar, avalie:
- Tipo e intensidade da imunossupressão (ex.: drogas biológicas, corticosteroides em altas doses, quimioterapia, transplante, infecção por HIV com baixa contagem de CD4);
- Histórico vacinal prévio e datas das últimas doses;
- Estado clínico atual e possibilidade de agendar vacinas antes do início de terapia imunossupressora.
Sempre que possível, completar esquemas vacinais antes do início de terapia imunossupressora é desejável. Quando isso não for factível, a escolha do tipo de vacina e o momento devem ser individualizados em conjunto com a equipe responsável pelo tratamento.
2. Tipos de vacinas: quais usar e quais evitar
Regra prática:
- Vacinas inativadas (toxoides, subunidades, vacinas recombinantes, vírions inativados) são, em geral, seguras para pacientes imunossuprimidos e podem ser administradas mesmo durante imunossupressão;
- Vacinas de vírus vivos atenuados (ex.: varicela, BCG, vacina tríplice viral em alguns cenários) costumam ser contraindicadas em pacientes com imunossupressão significativa devido ao risco de replicação vacinal e doença;
- Algumas vacinas de tecnologia nova (mRNA, vetor viral) usadas contra COVID-19 foram recomendadas e priorizadas para imunossuprimidos durante a pandemia, com doses adicionais e de reforço conforme orientação local.
Use documentação clínica e protocolos locais para decidir sobre vacinas vivas em casos limítrofes; sempre consultar infectologista ou especialista quando houver dúvida.
Vacinas geralmente recomendadas (lista exemplificativa)
- Influenza (vacina inativada anual)
- Hepatite B (esquema completo, considerar sorologia pós-vacinação)
- Pneumocócica (PCV13/PCV15 seguido de PPSV23 conforme calendário e idade)
- Meningocócica (conforme risco e indicações específicas)
- Vacinas contra SARS-CoV-2 (esquema primário + doses adicionais/ reforços conforme situação)
3. Esquemas e reforços para COVID-19 em imunossuprimidos
Pessoas com imunossupressão foram priorizadas para receber doses adicionais e de reforço das vacinas contra COVID-19. No Brasil, orientações do Ministério da Saúde preconizaram a aplicação de uma dose adicional alguns meses após o esquema primário para aumentar a proteção. Em documentos oficiais, a imunização adicional para imunossuprimidos foi indicada a partir de quatro meses após a última dose do esquema primário, com intervalos e indicações atualizados por autoridades locais conforme evolução epidemiológica e disponibilidade de vacinas (Ministério da Saúde).
Observações práticas:
- Prefira vacinas não vivas para imunossuprimidos; siga a recomendação local para tipo de dose adicional e intervalo;
- Algumas classes terapêuticas (p.ex. depleção de linfócitos B) reduzem fortemente a resposta vacinal — planeje a vacinação antes da terapia quando possível e, se não, consulte especialistas para ajuste de calendário;
- Documente todas as doses e oriente pacientes sobre a necessidade de reforços futuros.
4. Outras vacinas essenciais e pontos práticos
Além da COVID-19, priorize:
- Influenza anual: reduz hospitalizações e complicações respiratórias—importante em imunossuprimidos (Sociedade Brasileira de Infectologia explica as prioridades para esse grupo).
- Hepatite B: considere sorologia (anti-HBs) após esquema para confirmar resposta; pacientes imunossuprimidos têm maior chance de não resposta completa.
- Pneumocócica e meningocócica: seguir recomendação por risco, com atenção à sequência PCV → PPSV quando aplicável.
5. Monitoramento da resposta e manejo de falha vacinal
Nem todos os pacientes imunossuprimidos alcançam resposta imune adequada. Recomendações práticas:
- Realizar sorologia para vacinas em que exista marcador correlato de proteção (ex.: anti-HBs para hepatite B).
- Para COVID-19, a sorologia não é rotina para decisão clínica em todos os casos; sua interpretação deve ser cautelosa e integrada ao quadro clínico e risco de exposição.
- Se evidência de resposta deficiente, considerar doses adicionais conforme diretrizes locais e discutir medidas complementares — profilaxia e educação do paciente sobre prevenção de infecções.
6. Segurança, efeitos adversos e comunicação com o paciente
Explique ao paciente que vacinas inativadas são, em geral, seguras, e que reações locais ou sistêmicas leves são esperadas. Reforce que vacinas vivas atenuadas podem representar risco e, quando contraindicadas, devem ser evitadas. Registre reações adversas e encaminhe quando houver sinais de reação grave ou incomum.
7. Orientações práticas para o consultório
Checklist para a consulta vacinal em imunossuprimidos:
- Rever lista de medicamentos imunossupressores e tempo de uso;
- Tentar completar ou antecipar vacinas antes do início de imunossupressão quando possível;
- Priorizar vacinas inativadas e consultar protocolo antes de vacinas vivas;
- Registrar doses e fornecer cartão vacinal atualizado;
- Orientar sobre reforços e manter comunicação com equipe responsável pelo tratamento do paciente.
Para aprofundar práticas de planejamento e esquemas, consulte os materiais do blog sobre vacinação em imunossuprimidos e estratégias de imunização adulta: vacinacao-imunossuprimidos-adultos-esquemas-planejamento, vacinacao-adultos-com-comorbidades-esquemas-adesao-5, e imunizacao-adultos-com-comorbidades-estrategias-praticas. Para gestão de vacinas em pacientes transplantados, veja também vacinacao-pacientes-transplantados-orientacoes-praticas.
Fechamento e insights práticos
Vacinar adultos com imunossupressão é uma medida de alta impacto para reduzir morbidade e hospitalizações. Priorize a avaliação individualizada, prefira vacinas inativadas quando houver dúvida, planeje a imunização antes do início de terapias imunossupressoras sempre que possível e monitore resposta nos casos em que existam testes sorológicos úteis. Em cenários complexos (p.ex. terapias deplecionantes, transplante), articule decisões com infectologia, reumatologia, oncologia ou equipe responsável. Para diretrizes nacionais e material de apoio sobre vacinação de imunossuprimidos contra a COVID-19, consulte o Ministério da Saúde (gov.br) e orientações locais como as da Secretaria de Saúde do Distrito Federal e do Amazonas (Revista Brasileira de Reumatologia, Secretaria de Saúde do DF).
Use estes princípios para construir calendários vacinais seguros e eficazes, sempre documentando decisões e comunicando claramente riscos, benefícios e próximos passos aos seus pacientes.