O que é VITT: sinais, exames e manejo emergencial

O que é VITT: sinais, exames e manejo emergencial

VITT (trombose com trombocitopenia induzida por vacina) é uma síndrome rara, potencialmente grave, associada principalmente a vacinas baseadas em vetores adenovirais. Este texto foi elaborado para pacientes e profissionais de saúde, descrevendo definição, apresentação clínica, investigação laboratorial e de imagem, manejo emergencial e recomendações práticas para a prática clínica. O objetivo é facilitar o reconhecimento precoce, a tomada de decisão rápida e a redução de desfechos adversos.

O que é VITT e por que ocorre?

VITT é caracterizada por trombose associada a trombocitopenia que costuma ocorrer entre 4 e 30 dias após vacinação com plataforma de vetor viral. O mecanismo envolve a formação de anticorpos dirigidos ao fator plaquetário 4 (anti-PF4), que ativam plaquetas e o sistema de coagulação, levando à trombose em locais atípicos (por exemplo, seio venoso cerebral ou veias mesentéricas) concomitante à queda de plaquetas. Por ser incomum, o reconhecimento clínico rápido e o manejo adequado são fundamentais para reduzir morbimortalidade. Para aprofundar fundamentos de coagulopatias comparáveis, consulte conteúdos técnicos sobre heparin-induced thrombocytopenia e coagulopatias adquiridas (hae-sinais-diagnostico-tratamento).

Quem está em risco?

A incidência é muito baixa e varia conforme a vacina e a população. Embora qualquer pessoa possa ser afetada, foram relatados casos com maior frequência em adultos jovens e em mulheres em idade fértil em algumas séries; entretanto, o principal foco clínico é reconhecer sinais compatíveis no período pós-vacinação. Históricos de trombose ou de distúrbios de coagulação exigem avaliação individualizada, seguindo diretrizes locais.

Sinais clínicos e apresentação típica

Reconhecer sinais precoces de VITT é essencial. A apresentação reflete trombose associada a trombocitopenia; sinais comuns incluem:

  • Dores de cabeça intensas e persistentes — sugestivas de trombose venosa cerebral (CVST).
  • Dor abdominal súbita ou persistente — indicar trombose mesentérica ou portal.
  • Dor lombar intensa com sinais sistêmicos de trombose.
  • Sinais em membros (edema, calor, dor) compatíveis com trombose venosa profunda.
  • Sangramentos incomuns em pele ou mucosas, em contexto de trombocitopenia.
  • Dispneia ou dor torácica que podem indicar tromboembolismo pulmonar.

Qualquer quadro compatível no período de 4–30 dias pós-vacinação com vetor viral deve motivar avaliação imediata, pois VITT pode mimetizar outras doenças neurológicas ou abdominais.

Abordagem diagnóstica

Quando suspeitar de VITT

Suspeite de VITT quando houver trombose associada a trombocitopenia dentro do período pós-vacinação indicado. O diagnóstico combina dados clínicos, laboratorias e de imagem, com ênfase em testes que identifiquem ativação imune (anti-PF4) e sinais de coagulação ativa (D-dímero elevado).

Exames laboratoriais-chave

  • Hemograma completo — confirmar trombocitopenia.
  • Coagulação — TP, TTPa e, sobretudo, D-dímero (frequentemente elevado na VITT).
  • Teste anti-PF4 (ELISA) — pesquisa de anticorpos dirigidos ao PF4, importante para confirmação diagnóstica.
  • Função de órgãos: função hepática e renal (hepatograma, creatinina) quando há suspeita de trombose abdominal ou comprometimento orgânico.

Há variabilidade entre plataformas de teste; portanto, o resultado deve ser interpretado com base na consistência entre quadro clínico, D-dímero e anti-PF4. Em cenários suspeitos, não espere resultados laboratoriais para começar medidas iniciais de suporte.

Exames de imagem

  • Tomografia computadorizada (TC) com contraste ou angiotomografia/venografia para avaliar trombose venosa cerebral ou torácica.
  • Ultrassonografia Doppler para trombose venosa de membros inferiores.
  • Ressonância magnética (RM) venosa quando CVST for suspeita e a TC for inconclusiva.
  • No abdome, ultrassom abdominal ou TC abdominal com contraste para investigar trombose mesentérica ou portal.

A escolha de imagem deve considerar a localização clínica da trombose, gravidade do paciente e disponibilidade local.

Manejo emergencial: princípios-chave

O tratamento visa interromper a ativação imune, tratar o trombo e conservar a hemostasia. Diretrizes atuais recomendam:

  • Evitar heparina sempre que possível, pela semelhança fisiopatológica com HIT (heparin-induced thrombocytopenia).
  • Anticoagulação não-heparínica — considerar fondaparinux, argatroban ou bivalirudina, com ajuste conforme função renal e hepática.
  • Imunoglobulina intravenosa (IVIG) em dose alta (por exemplo, 1 g/kg/dia por 1–2 dias), para bloquear a ativação plaquetária mediada por anticorpos anti-PF4.
  • Plasmaférese pode ser considerada nos casos refratários ou com evolução agressiva.
  • Transfusão de plaquetas só quando houver sangramento maciço ou necessidade urgente de procedimento invasivo, pois pode agravar trombose em pacientes com anticorpos anti-PF4.
  • Monitorização frequente de plaquetas, D-dímero, função renal/hepática e sinais de sangramento ou expansão trombótica.

Em pacientes com trombose estabelecida e VITT suspeita, inicie anticoagulação não-heparínica e administre IVIG conforme indicação, com monitoramento em unidade de maior complexidade quando necessário.

Quando transferir para serviço especializado

Encaminhe para centro com suporte especializado (hematologia, neurocirurgia, radiologia intervencionista) casos de CVST, trombose esplênica/mesentérica com isquemia, tromboembolismo pulmonar grave ou hemorragia significativa.

Tratamento conforme localização do trombo

O manejo deve ser individualizado segundo local e gravidade:

  • CVST — anticoagulação não-heparínica, IVIG e manejo da pressão intracraniana quando indicado.
  • Trombose abdominal — avaliação cirúrgica se houver isquemia intestinal; anticoagulação não-heparínica e IVIG conforme gravidade.
  • Tromboembolismo pulmonar — anticoagulação não-heparínica, suporte hemodinâmico e avaliação para intervenções quando necessário.
  • Trombose de membros — anticoagulação e avaliação para trombólise ou intervenção endovascular em casos extensos.

Consulte diretrizes atualizadas e adapte condutas à realidade institucional e às características do paciente.

Implicações para a prática clínica

Para equipes de saúde, VITT exige:

  • Manter alto índice de suspeição em pacientes com trombose e plaquetas baixas no período 4–30 dias pós-vacinação com vetor viral.
  • Estabelecer protocolos institucionais que integrem testes de anti-PF4, D-dímero e imagens de forma coordenada.
  • Disponibilizar opções de anticoagulação sem heparina e acesso rápido à IVIG.
  • Orientar pacientes sobre sinais de alarme e a necessidade de retorno rápido ao serviço de saúde.

Para vigilância epidemiológica e comunicação em saúde pública, registre casos com detalhes clínicos e laboratoriais e atualize campanhas de imunização incluindo informações claras sobre sinais de alarme e condutas iniciais. Para revisar padrões diagnósticos e manejo de coagulopatias semelhantes, consulte materiais técnicos em coagulacao intravascular disseminada (coagulacao intravascular-disseminado).

Vacinação e aconselhamento ao paciente

Pacientes que apresentaram VITT devem receber orientação individualizada sobre doses futuras e alternativas de plataforma vacinal. Embora a VITT tenha sido associada principalmente a vacinas de vetor viral, a decisão sobre novas doses deve considerar análise de risco-benefício e discussão com especialista em imunização. Para contexto sobre plataformas vacinais emergentes, consulte materiais sobre vacinas mRNA e respostas imunes (vacinas mrna doencas infecciosas emergentes).

Quando procurar atendimento de urgência

Procure atendimento imediato se houver, após vacinação:

  • Dor de cabeça súbita e intensa ou que piora progressivamente;
  • Sintomas neurológicos como alteração da fala, fraqueza focal ou confusão;
  • Dor abdominal aguda ou sangramento incomum;
  • Dispneia súbita, dor torácica ou síncope;
  • Surgimento de manchas roxas extensas na pele, sangramentos nasais ou mucosos.

Não adie a avaliação médica: diagnóstico precoce e início rápido do tratamento são determinantes de melhor prognóstico.

Resumo prático e recomendações imediatas

VITT é rara, mas potencialmente grave. Em qualquer paciente com trombose associada a trombocitopenia no período 4–30 dias após vacinação com vetor viral, mantenha suspeição, peça hemograma, D-dímero e teste anti-PF4, solicite imagem direcionada e inicie medidas terapêuticas apropriadas: anticoagulação não-heparínica e IVIG quando indicado. Encaminhe rapidamente para centro com suporte especializado em casos graves. Comunicar o paciente de forma clara sobre sinais de alarme e garantir acompanhamento são ações essenciais para reduzir risco e melhorar desfecho clínico.

Este texto foi preparado para oferecer orientação prática e atualizada sobre VITT, com linguagem acessível para pacientes e suficientemente técnica para profissionais de saúde. Para aprofundamento em fisiopatologia e diretrizes, consulte os recursos referenciados no texto.

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