Abordagem inicial da dispneia em adultos na APS
Introdução
A dispneia é uma das queixas mais frequentes na atenção primária e pode sinalizar desde condições benignas até situações com risco imediato de vida. Como priorizar, avaliar e manejar rapidamente um paciente com dispneia no consultório? Este texto sintetiza passos práticos, sinais de alarme e condutas iniciais para profissionais de saúde.
Avaliação rápida e triagem: reconhecer risco imediato
Ao receber um paciente com dispneia, faça uma triagem imediata para identificar sinais de gravidade. Intervenções iniciais podem salvar vidas.
Sinais de alerta (encaminhar à emergência)
- Taquipneia importante, uso de musculatura acessória, cianose.
- SpO2 < 92% em ar ambiente (ajustar conforme doença de base), hipotensão, alteração do nível de consciência.
- Dor torácica intensa sugestiva de isquemia, hemoptise maciça, edema agudo de pulmão suspeito.
Se presentes, inicie suporte (oxigênio conforme necessidade, vias aéreas e ventilação) e encaminhe para serviço de urgência. Para orientações sobre manejo inicial da insuficiência cardíaca aguda na atenção primária, consulte as linhas de cuidado do Ministério da Saúde que descrevem passos práticos de avaliação e encaminhamento: manejo inicial da insuficiência cardíaca na APS.
Anamnese e exame físico: o que investigar
Uma anamnese dirigida e um exame físico bem realizado aumentam muito a probabilidade de diagnóstico etiológico.
Itens essenciais na anamnese
- Início, progressão e padrão da dispneia (aguda x crônica, progressiva, episódica).
- Fatores precipitantes: atividade física, esforço, exposição ocupacional, alergênicos, tabagismo.
- Sintomas acompanhantes: tosse, sibilos, dor torácica, edema de membros inferiores, febre, perda de peso, sintomas neurológicos.
- Histórico de DPOC, asma, insuficiência cardíaca, tromboembolismo, doença renal, doenças autoimunes, uso de medicamentos (beta‑bloqueadores, opióides).
Para orientação prática de como estruturar perguntas e registrar a anamnese do aparelho respiratório, veja nosso guia: Anamnese do aparelho respiratório: guia prático.
Exame físico focal
- Inspeção: ritmo respiratório, esforço, cianose, edema.
- Palpação: assimetria, frêmito tóraco‑vocal.
- Percussão: macicez (derrames) x hiper‑ressonância (enfisema, pneumotórax).
- Ausculta: sibilos, estertores crepitantes, diminuição de murmúrio vesicular.
Estratificação funcional: uso da escala MRC e testes simples
Além da avaliação clínica, utilize ferramentas para quantificar impacto funcional. A escala de dispneia do Medical Research Council (MRC) é uma medida simples para classificar limitação por dispneia em atividades diárias e auxiliar no seguimento de pacientes com DPOC ou outras doenças respiratórias crônicas.
Em casos ambulatoriais, inclua medição de SpO2, frequência respiratória e, quando disponível, pico de fluxo expiratório ou espirometria para suspeita de obstrução. Para programas mais estruturados de DPOC e cuidados paliativos da dispneia, há revisões e recomendações de suporte para sintomas crônicos: dispneia em pacientes com DPOC e cuidados paliativos.
Manejo inicial orientado pela provável etiologia
Depois de excluir sinais de gravidade, inicie condutas dirigidas à suspeita clínica enquanto organiza exames complementares e acompanhamento.
Condutas por hipótese diagnóstica
- Exacerbação de DPOC ou asma: broncodilatadores inalatórios de curta ação (SABA ± SAMA), considerar corticoide sistêmico curto se exacerbação moderada a grave; avaliar necessidade de antibióticos segundo critérios clínicos. Veja orientação sobre manejo de asma/DPOC e comorbidades: manejo asma/DPOC em adultos.
- Sugestão de insuficiência cardíaca: avaliar sinais de sobrecarga volêmica; diuréticos podem ser necessários em conjunto com encaminhamento e ajuste de terapias cardiológicas. Consulte as linhas de cuidado do Ministério da Saúde sobre manejo inicial da insuficiência cardíaca: manejo inicial na atenção móvel e nosso material sobre abordagem da insuficiência cardíaca na APS: abordagem insuficiência cardíaca na APS.
- Infecção respiratória: tratar conforme probabilidade bacteriana; usar princípios de uso racional de antibióticos em infecções respiratórias. Sempre reavalie em 48–72 horas.
- Tromboembolismo pulmonar, pneumotórax, pneumonia grave: alto índice de suspeita e encaminhamento urgente para avaliação radiológica e tratamento hospitalar.
Educação, autocuidado e seguimento
Explique ao paciente medidas práticas e sinais de agravamento. Instrua sobre:
- Técnica correta de inalatórios e adesão ao esquema (treine e observe o gesto). Consulte materiais de adesão e educação: educação terapêutica para adesão.
- Técnicas de respiração (respiração labial, controle do esforço) e quando procurar reavaliação.
- Plano de acompanhamento: retorno precoce após exacerbação, programação de espirometria e revisão das comorbidades.
Referências e recursos adicionais
Integre diretrizes e literatura confiável ao seu raciocínio clínico. As diretrizes da Associação Médica Brasileira e documentos de políticas públicas são úteis para padronizar condutas: Projeto Diretrizes AMB.
Feche a consulta com um plano claro: identificar se há necessidade de suporte imediato, estabelecer o diagnóstico mais provável, iniciar tratamento dirigido e organizar seguimento (ou encaminhamento). A avaliação sistemática da dispneia na atenção primária reduz atrasos diagnósticos, melhora o manejo de DPOC e insuficiência cardíaca e previne desfechos adversos.