Abordagem prática da anemia ferropriva na APS

Abordagem prática da anemia ferropriva na APS

Introdução

Você identifica palidez, cansaço e dificuldade de concentração com frequência na atenção primária à saúde? A anemia ferropriva é a causa mais comum de anemia no mundo e especialmente prevalente em lactentes e gestantes — estudos mostram prevalência elevada em menores de 36 meses, com picos entre 6 e 24 meses (ver estudo regional). Identificar, tratar e prevenir essa condição na atenção primária reduz morbidade e melhora desenvolvimento infantil e desempenho funcional em adultos.

Por que priorizar a anemia ferropriva na atenção primária?

A atuação no nível primário permite intervenções de baixo custo com grande impacto: suplementação de ferro, educação nutricional e rastreamento oportuno. Programas de fortificação e ações dirigidas a gestantes e crianças pequenas são medidas-chave para reduzir a carga populacional.

Para dados de prevalência e impacto em crianças, veja análise epidemiológica regional.

Avaliação e diagnóstico prático

Anamnese e exame físico

  • Avaliar sinais e sintomas: palidez, fadiga, taquicardia, intolerância ao exercício, irritabilidade em crianças e baixa concentração escolar.
  • História dietética: ingestão de alimentos de origem animal, consumo de inibidores de absorção (chá, café), hábitos de aleitamento e alimentos de transição em lactentes.
  • Investigar perdas sanguíneas: menstruação abundante, sangramentos digestivos, história de parasitose.

Exames laboratoriais essenciais

  • Hemoglobina (Hb): confirma anemia. Em adultos, Hb <13 g/dL em homens e <12 g/dL em mulheres sugere anemia; valores pediátricos variam por idade.
  • Ferritina sérica: marcador de reservas. Ferritina <30 ng/mL em ausência de inflamação é sugestiva de deficiência de ferro. Se houver inflamação/infecção, considerar limiar maior (ex.: <100 ng/mL) ou usar marcadores adicionais.
  • Quando disponível: VCM (microcitose), RDW, proteína C-reativa para interpretar ferritina.

Para um algoritmo de investigação e critérios laboratoriais detalhados consulte o guia prático de diagnóstico e manejo em ambulatório.

Tratamento e condutas na atenção primária

Reposição oral: princípios práticos

A primeira linha é, na maioria dos casos, a reposição oral com monitoramento clínico-laboratorial. Orientações práticas:

  • Escolha do sal: sulfato ferroso é a opção mais utilizada por custo-efetividade e disponibilidade (seguindo recomendações nacionais).
  • Dosagem orientativa: objetivar aporte diário de ferro elementar entre ~40–100 mg conforme gravidade e tolerância. Na prática, sulfato ferroso 325 mg (≈65 mg de ferro elementar) pode ser prescrito 1–2x/dia; ajustar conforme resposta e efeitos adversos. Alternativas: dose única diária ou em dias alternados para diminuir efeitos gastrointestinais e melhorar absorção (evidência crescente para doses menores/alternate-day em alguns pacientes).
  • Duração: esperar aumento de Hb ≈1 g/dL em 2–4 semanas; manter terapia por mais 3 meses após normalização da Hb para repor estoques ferroseos.
  • Interações e orientações: tomar com vitamina C ou suco cítrico para melhorar absorção; evitar ingestão simultânea com chá, café, leite e antiácidos.
  • Efeitos adversos: náusea, constipação, dor abdominal; ajustar dose, fracionar ou trocar para formulações com menor irritação se necessário.

Para esquemas específicos em crianças e gestantes, siga protocolos locais e as recomendações do Ministério da Saúde; programas de suplementação infantil e pré-natal são estratégias essenciais.

Quando considerar reposição endovenosa ou encaminhamento

  • Intolerância oral significativa, falta de resposta esperada (sem aumento de Hb após 4 semanas) ou necessidade de reposição rápida: considerar ferro parenteral.
  • Sinais de sangramento ativo ou origem não óbvia da perda: investigar e encaminhar (ex.: avaliação ginecológica ou endoscópica quando indicado).
  • Casos complexos ou refratários: solicitar avaliação hematológica.

Prevenção e ações na comunidade

  • Suplementação de ferro em grupos de risco: lactentes, crianças pequenas e gestantes conforme protocolos de saúde pública.
  • Fortificação de alimentos básicos (farinhas) e políticas públicas que aumentem consumo populacional de ferro.
  • Educação nutricional: incentivar fontes alimentares de ferro heme (carnes, vísceras, aves, peixes) e vegetais verde-escuros, além de medidas para aumentar a biodisponibilidade (evitar inibidores no momento das refeições ricas em ferro).
  • Promoção do aleitamento materno exclusivo até 6 meses e alimentação complementar adequada para reduzir risco em lactentes.

Programas de atenção primária bem estruturados conseguem reduzir prevalência e impacto da anemia ferropriva — ações integradas entre equipes de saúde, nutrição e vigilância epidemiológica são recomendadas.

Seguimento: metas e sinais de resposta

  • Reavaliar Hb em 2–4 semanas para verificar resposta (aumento de ≈1 g/dL é esperado).
  • Monitorar ferritina após normalização da Hb para confirmar reposição de estoques.
  • Registrar adesão e efeitos adversos; reforçar orientações sobre dieta e interações medicamentosas.

Algoritmo prático em 6 passos para consulta na APS

  • 1) Suspeita clínica → solicitar Hb e ferritina.
  • 2) Confirmar deficiência → iniciar sulfato ferroso oral com orientação sobre absorção e efeitos.
  • 3) Agendar retorno em 2–4 semanas com hemograma.
  • 4) Se resposta adequada, manter até completar 3 meses após normalização; se não, revisar adesão, investigar perdas e considerar ferro parenteral.
  • 5) Investigar causas secundárias (sangramentos, doenças crônicas) quando indicado.
  • 6) Integrar ações preventivas: suplementação programática, fortificação e educação nutricional.

Encaminhamentos e sinais de alerta

Encaminhe para especialidade (hematologia, gastroenterologia ou ginecologia) se houver: perda sanguínea inexplicada, falha terapêutica apesar de adesão, necessidade de ferro endovenoso, suspeita de hemoglobinopatias ou dados laboratoriais que sugiram diagnóstico alternativo.

Fechamento e insights práticos

Na atenção primária, uma abordagem padronizada e orientada a resultados — triagem adequada, protocolo de suplementação, educação nutricional e monitoramento — é efetiva para controlar a anemia ferropriva. Pequenas mudanças na prática (prescrever com instruções claras sobre absorção, agendar retorno ativo, atuar em prevenção) aumentam a taxa de cura e reduzem reinternações e impacto no desenvolvimento infantil.

Leituras recomendadas no blog para aprofundamento: guia de anemia ferropriva prática ambulatorial, fluxo de manejo na APS e estratégias de rastreamento e prevenção.

Referências e leituras externas: prevalência em menores de 36 meses (estudo regional) disponível em repositorio.unifesp.br; recomendações sobre abordagem na atenção primária e suplementação descritas em revisão prática disponível em portal.secad.artmed.com.br; análise da importância da atenção básica no controle da anemia em repositorio.ufmg.br.

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