Anemia ferropriva em adultos: diagnóstico e manejo inicial

Anemia ferropriva em adultos: diagnóstico e manejo inicial

Introdução

Você já avaliou um paciente com fadiga persistente, palidez e redução da capacidade de exercício e se perguntou qual é a melhor sequência diagnóstica e terapêutica? A anemia ferropriva é a causa mais comum de anemia em adultos e exige abordagem sistemática: confirmar a deficiência de ferro, identificar a etiologia e iniciar reposição segura e eficaz.

1. Definição, epidemiologia e apresentação clínica

A deficiência de ferro leva a diminuição dos estoques de ferro e, quando avançada, à anemia microcítica hipocrômica. Em adultos, é frequente e impacta qualidade de vida e capacidade funcional. Sintomas típicos incluem fadiga, intolerância ao exercício, dispneia aos esforços, tontura e palidez; sinais menos específicos podem ser queilite, queixas cognitivas e pica.

Etiologias comuns:

  • Perdas crônicas de sangue — menstruação abundante em mulheres em idade reprodutiva, sangramento gastrointestinal por úlcera, neoplasia ou lesões anorretais.
  • Má absorção — gastrite atrófica, doença celíaca ou cirurgia bariátrica que comprometem a absorção intestinal.
  • Ingestão insuficiente — menos frequente em adultos, mas relevante em dietas restritivas.

Para orientações práticas de triagem e seguimento na atenção primária, veja o material sobre triagem e manejo na APS e a abordagem ambulatorial em anemia ferropriva prática ambulatorial.

2. Diagnóstico laborator ial e interpretação

O diagnóstico combina achados do hemograma com marcadores do metabolismo do ferro:

  • Hemograma: anemia microcítica e hipocrômica; volume corpuscular médio (VCM) frequentemente <80 fL.
  • Ferro sérico e ferritina: ferritina baixa indica baixos estoques; ferro sérico habitualmente reduzido.
  • Capacidade de ligação do ferro (TIBC): tipicamente aumentada na deficiência de ferro.
  • Índices auxiliares: saturação de transferrina (TFsat) reduzida; em estados inflamatórios, a ferritina pode estar falsamente normal/alta — considere avaliação de marcadores inflamatórios e estudos adicionais.

Valores orientadores práticos (não absolutos): ferritina <30 ng/mL é sugestiva de deficiência de ferro em situação sem inflamação; saturação de transferrina <15–20% corrobora o diagnóstico. Interprete os exames no contexto clínico e com suspeita ativa de perda sanguínea grave (por exemplo, investigação gastrointestinal em homens e mulheres pós‑menopausa).

Se houver dúvida diagnóstica ou inflamação concomitante, considere exames complementares (ex.: PCR, avaliação da medula quando indicado) e encaminhamento conforme protocolos locais (ver avaliação e manejo na APS).

3. Manejo inicial e reposição de ferro

Indicações e objetivo

Tratar a anemia ferropriva tem dois objetivos: corrigir a anemia e reabastecer os estoques de ferro, além de corrigir a causa subjacente (ex.: controlar hemorragia, investigar neoplasia intestinal, tratar doença celíaca).

Reposição oral

  • Escolha comum: sulfato ferroso. Dose prática conforme orientação: aproximadamente 200–300 mg de sal ferroso (equivalente a ~60–100 mg de ferro elementar) por dia, dividida em 1–3 doses. Ajuste conforme tolerância.
  • Duração: manter por pelo menos 4–6 meses após normalização da hemoglobina para reabastecer estoques (especificado nas diretrizes e na literatura disponível).
  • Monitoramento da resposta: reticulocitose e melhora clínica esperadas em 7–10 dias; aumento de Hb de ~1 g/dL esperado em 2–4 semanas. Realizar hemograma de controle em 4 semanas e ajustar conduta se sem resposta.
  • Efeitos adversos gastrointestinais (náusea, constipação, dor abdominal) são comuns; orientar adesão, administração com alimentos se necessário (reduz absorção) e considerar mudança de preparação ou esquema alternado (p. ex., dose em dias alternados) se intolerância.

Reposição intravenosa

Indicações para ferro IV incluem intolerância oral com falha terapêutica, necessidade de reposição rápida (anemia sintomática com risco funcional), perda sanguínea contínua ou quando absorção está comprometida. A seleção da formulação IV e regime depende da disponibilidade, custos e protocolos locais; sempre monitorar reações infusionais e função hepática conforme orientação da bula.

Transfusão

Reservada para pacientes com anemia grave sintomática ou instabilidade hemodinâmica. Em casos estáveis, prefira correção do ferro antes da transfusão, quando possível.

Investigar causa

Enquanto inicia reposição, investigue a causa mais provável: em homens e mulheres pós‑menopausa, investigar sangramento gastrointestinal com endoscopia e/ou colonoscopia conforme quadro; em mulheres pré‑menopausa, avaliar padrão menstrual e considerar encaminhamento ginecológico. Em casos suspeitos de má absorção, pesquisar doença celíaca e condições gástricas (ver referência clínica).

Recursos sobre manejo específico em mulheres e na atenção primária estão em manejo na APS: mulheres e no tópico prático anemia ferropriva: diagnóstico e manejo inicial.

Monitorização e critérios de resposta

  • Hemograma em 4 semanas para avaliar resposta (espera‑se aumento da Hb e melhoras clínicas).
  • Reavaliar ferritina após término do ciclo de reposição (ou conforme protocolos locais) para confirmar repleção de estoques.
  • Se sem resposta clínica/laboratorial em 4–8 semanas: revisar aderência, absorção, dose, coexistência de inflamação ou doenças crônicas e considerar encaminhamento hematológico.

Referências e leituras selecionadas

Sumário clínico e revisões que embasam recomendações práticas podem ser encontrados em fontes acessíveis: revisão clínica em MDsaude sobre etiologias e apresentação, discussão de aspectos laboratoriais em repositório acadêmico e diretrizes práticas em periódicos especializados. Exemplos úteis: MDsaude – anemia ferropriva, análise laboratorial disponível em Intramed – hemograma e interpretação e revisão sobre causas e tratamento em RICS Journal – anemia ferropênica.

Fechamento prático

Em resumo: confirme deficiência com ferritina e índices do ferro, inicie reposição oral quando possível (200–300 mg de sal ferroso/dia) e investigue perdas sanguíneas, especialmente GI ou ginecológicas. Monitore resposta com hemograma em 4 semanas e mantenha terapia por 4–6 meses após normalização para reabastecer estoques. Em situações de intolerância ou necessidade de reposição rápida, considere ferro IV. Integre estes passos ao fluxo de atenção primária para reduzir demora diagnóstica e evitar causas tratáveis de perda de sangue.

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