Abordagem prática da dor lombar aguda

Abordagem prática da dor lombar aguda

Introdução

Como avaliar um paciente com dor lombar aguda no consultório sem subestimar sinais de gravidade? A dor lombar aguda é frequente na atenção primária e, na maioria dos casos, é inespecífica — mas identificar sinais de alerta precocemente muda a conduta. Este texto orienta a avaliação clínica, o reconhecimento de bandeiras vermelhas e um plano de manejo conservador aplicável no consultório.

Avaliação inicial

Anamnese dirigida

Foque em início (súbito vs gradual), duração (<6 semanas define aguda), padrão da dor (irradiada, em queimação, com parestesia), fatores desencadeantes (trauma, esforço, infecção recente), e impacto funcional. Pergunte por histórico de câncer, uso de corticoterapia crônica, drogas endovenosas, febre ou perda de peso inexplicada. A anamnese é o primeiro passo da avaliação clínica e orienta exames adicionais.

Exame físico focal

  • Avalie marcha, inspeção e palpação da coluna lombar;
  • Teste de elevação da perna estendida (SLR) para radiculopatia;
  • Força muscular, reflexos e sensibilidade em membro inferior;
  • Avalie sinais de compressão de cauda equina: anestesia em sela, retenção urinária, perda rápida de força.

Documente déficits neurológicos objetiváveis; sua progressão é indicação de encaminhamento rápido.

Sinais de alerta (bandeiras vermelhas)

Procure por sinais que sugerem fratura, infecção, neoplasia ou compressão neurológica. Entre os principais:

  • Idade <20 ou >55 anos sem causa clara;
  • História atual ou pregressa de câncer;
  • Trauma significativo (especialmente em idosos ou uso crônico de corticoide);
  • Febre persistente, calafrios ou sinais sistêmicos de infecção;
  • Uso de drogas intravenosas, imunossupressão;
  • Dor noturna intensa ou dor em repouso progressiva;
  • Déficit neurológico progressivo ou sinais de cauda equina.

Se qualquer bandeira vermelha estiver presente, solicite investigação complementar (laboratoriais e imagem) e considere encaminhamento urgente. As diretrizes do Ministério da Saúde detalham fluxos de avaliação e conduta para esses casos (linhas de cuidado).

Manejo conservador no consultório

Educação, reativação e metas funcionais

A educação é central: explique que a maioria dos episódios melhora em semanas, que a reativação precoce reduz cronificação e que o objetivo é recuperar função, não apenas eliminar dor. Estratégias de educação em saúde e planos de retorno progressivo às atividades são eficazes e devem ser combinados com exercícios ativos.

Exercícios e reabilitação

Indique exercícios de alongamento e exercícios de fortalecimento progressivos para o core e musculatura paravertebral; oriente sobre postura e ergonomia no trabalho. Quando disponível, encaminhe para fisioterapia com ênfase em terapia ativa e recondicionamento. Revisões em APS suportam a eficácia de autocuidado associado a programas de exercício (revisão UFMG).

Tratamento farmacológico prático

  • Priorize analgésicos não opioides: paracetamol ou AINEs por curto período, considerando contraindicações;
  • Evite opioides de rotina; reserve para dor intensa e por tempo limitado, com plano de desmame e monitorização;
  • Musculotrópicos podem ser úteis por curto prazo em espasmo significativo, avaliando sedação e interações.

Para população idosa ou com risco farmacológico, siga orientações específicas (ver prescrição de AINEs em idosos). A escolha medicamentosa deve ser combinada com medidas não farmacológicas.

Quando pedir exames e quando encaminhar

Não solicite imagem de rotina em pacientes sem bandeiras vermelhas. Indicações para imagem e investigação adicional:

  • Sinais de infecção (PCR, hemoculturas e imagem quando indicado);
  • Suspeita de fratura (radiografia inicial) ou neoplasia (RM);
  • Déficit neurológico progressivo ou suspeita de compressão de cauda equina (RM urgente).

Encaminhe a especialista (ortopedia/neurologia/coluna) quando houver sinais de alerta, dor refratária após 6 semanas de manejo adequado ou radiculopatia grave com déficit motor.

Integração prática no consultório

Adote um fluxo conciso: triagem de bandeiras vermelhas → educação e plano de reativação → prescrição racional e exercícios → reavaliação em 2–6 semanas. Use materiais educativos e reforço de adesão para otimizar resultados (veja estratégias em educação terapêutica e adesão). Para abordagem detalhada e protocolos locais, confira também o post prático sobre a temática no blog (abordagem prática) e sua variante com foco em APS (abordagem prática – APS).

Fechamento e insights práticos

Resumo rápido para levar ao consultório:

  • Trate a dor lombar aguda com foco na função; a maioria é inespecífica;
  • Busque ativamente sinais de alerta na anamnese e exame;
  • Priorize manejo conservador: educação, reativação, exercícios de fortalecimento e prescrição racional;
  • Solicite exames e encaminhe apenas com indicação clara (fratura, infecção, neoplasia, cauda equina ou déficit neurológico progressivo).

Para aprofundamento em evidências e diretrizes, consulte a revisão e os protocolos citados: artigo clínico e revisão disponível no SciELO, a revisão de manejo na APS (UFMG) e as linhas de cuidado do Ministério da Saúde (linhas de cuidado).

Aplicando esse fluxo, você reduz exames desnecessários, acelera a recuperação funcional e identifica rapidamente pacientes que precisam de intervenção especializada.

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