Infecções respiratórias em adultos: diagnóstico e antibióticos
Introdução
Como distinguir rapidamente uma gripe de uma pneumonia que exige internação? Em um contexto onde a resistência antimicrobiana cresce, o diagnóstico clínico acurado e o uso racional de antibióticos são imperativos para reduzir complicações e preservar a eficácia terapêutica. Este artigo sintetiza abordagens práticas para profissionais de saúde no atendimento a adultos com infecções respiratórias.
1. Diagnóstico oportuno: avaliação estruturada
Avaliação clínica inicial
Uma anamnese dirigida e exame físico permanecem centrais. Pergunte por início dos sintomas, padrão de febre, dor torácica, dispneia, expectoração e comorbidades (DPOC, imunossupressão, cardiopatia). Sinais de gravidade (taquipneia, dessaturação, confusão) exigem avaliação imediata.
Use ferramentas validadas quando aplicáveis: escore CURB-65 para estratificação de risco em pneumonia adquirida na comunidade e critérios clínicos específicos para exacerbações de DPOC. Para apoio prático na anamnese e exame do aparelho respiratório, consulte a orientação do blog sobre anamnese do aparelho respiratório.
Exames complementares: quando e quais solicitar
Os exames devem complementar, nunca substituir, o raciocínio clínico.
- Radiografia de tórax: indicada quando há suspeita de pneumonia, sinais de gravidade ou deterioração clínica.
- Testes rápidos e point-of-care: PCR/antígeno para influenza e SARS-CoV-2 conforme epidemiologia local; PCR/CRP pontual pode auxiliar na diferenciação viral vs bacterial em contexto ambulatorial.
- Culturas de escarro e hemoculturas: em casos de pneumonia moderada-grave, internados ou falha terapêutica.
Para protocolos práticos de manejo de infecções respiratórias em adultos, veja o material do blog sobre manejo de infecções respiratórias agudas.
2. Critérios para prescrição e estratégias de stewardship
Quando prescrever antibiótico?
Lembre-se: a maioria das infecções respiratórias agudas em adultos é viral. Prescreva antibiótico apenas quando houver evidência ou forte suspeita de infecção bacteriana. Diretrizes práticas a considerar:
- Faringoamigdalite: use critérios clínicos (ex.: Centor/McIsaac) e teste rápido para orientar terapia; antibiótico quando possível etiologia bacteriana confirmada ou alto escore.
- Sinusite aguda: considerar antibiótico se sintomas persistem >10 dias, piora após melhora inicial ou quadro grave.
- Exacerbação de DPOC: indicar antibiótico quando há aumento da dispneia, volume e purulência do escarro (critérios de Anthonisen) e quando indica internação.
- Pneumonia adquirida na comunidade: iniciar antibiótico empírico com base no risco e gravidade (ambulatório vs internação), ajustando conforme cultura e resposta clínica.
Princípios do uso racional de antibióticos
- Prefira antibióticos de espectro estreito quando possível e baseados em diretrizes locais.
- Defina duração terapêutica curta e comprovada (ex.: 5 dias em muitas pneumonias leves com boa resposta clínica).
- Considere estratégia de “watchful waiting” ou prescrição diferida em sinusite e algumas faringoamigdalites, com instruções claras ao paciente.
- Documente razão da prescrição e plano de reavaliação; reavalie em 48–72 horas para ajuste.
Para orientação prática sobre prescrição racional em ambulatório e stewardship, consulte os recursos do blog dedicados a prescrição racional de antibióticos e ao tema uso racional de antibióticos em infecções respiratórias.
3. Impacto da resistência e medidas preventivas
Resistência antimicrobiana: consequências práticas
O uso excessivo e inadequado de antibióticos acelera a resistência antimicrobiana, com aumento de infecções difíceis de tratar, custos e mortalidade. Monitorizar padrões locais de sensibilidade e adaptar empiricidade é essencial.
Prevenção de infecções e educação
Medidas de prevenção reduzem carga e necessidade de antibióticos:
- Vacinação: influenza e vacina pneumocócica conforme risco e recomendações para adultos — reforçar em pacientes com comorbidades. Veja estratégias práticas sobre vacinação de adultos com comorbidades.
- Higiene das mãos, etiqueta respiratória e redução de exposição a tabaco.
- Educação do paciente: explicar natureza viral na maioria dos casos, sinais de alarme e quando retornar.
Integre educação terapêutica e comunicação para melhorar adesão e reduzir prescrições desnecessárias; materiais sobre educação terapêutica e adesão são úteis.
Referências e recursos complementares
Algumas diretrizes e revisões úteis para aprofundamento e protocolos locais incluem documentos técnicos e manuais de sociedades e instituições brasileiras. Exemplos:
- Diretrizes publicadas pela Associação Médica Brasileira relacionadas a doenças respiratórias e imunoterapia: AMB – Projeto Diretrizes.
- Manual prático do IGESDF sobre manejo de infecções respiratórias em ambiente hospitalar: IGESDF – Infecções respiratórias.
- Estudo sobre utilização de antimicrobianos na comunidade destacando a necessidade do uso racional: Revista de Saúde Pública – uso de antimicrobianos.
Fechamento: orientações práticas imediatas
Para aplicação clínica rápida:
- Priorize anamnese e exame físico direcionados; solicite exames complementares que mudem conduta.
- Prescreva antibiótico apenas com indicação clara; prefira agentes de espectro estreito e durações mínimas efetivas.
- Use estratégias de stewardship: prescrição documentada, reavaliação precoce, prescrição diferida quando apropriado.
- Implemente prevenção ativa: vacinação, higiene e educação do paciente para reduzir recidivas e uso desnecessário de antibióticos.
Aplicar essas medidas contribui para melhores desfechos clínicos e preserva opções terapêuticas para o futuro. Para protocolos locais e fluxos de decisão práticos, consulte os guias e posts indicados ao longo do texto.