Lesões cutâneas comuns no consultório: guia prático
Introdução
Quais são as lesões cutâneas que você mais encontra na prática ambulatorial e como priorizar diagnóstico e manejo imediato? Lesões como acne, dermatite atópica, psoríase, dermatofitoses, urticária e lesões pré-cancerígenas são frequentes e impactam qualidade de vida. A abordagem sistemática reduz erro diagnóstico, evita tratamentos inadequados e orienta o encaminhamento correto.
1. Estratégia prática de avaliação
Anamnese e exame dirigido
Comece pela história: início, evolução, fatores desencadeantes, localização, prurido, dor, tratamentos prévios, uso de imunossupressores e exposição solar. Um exame completo da pele, unhas e couro cabeludo é essencial. Para orientações sobre como estruturar consulta e exame físico, consulte o nosso guia de anamnese e exame físico.
Exames rápidos no consultório
- KOH (raspado) para suspeita de dermatofitoses ou candidíase superficial.
- Exame micológico e cultura quando houver onicomicose extensiva ou resposta terapêutica insuficiente.
- Dermatoscopia para avaliação de lesões pigmentadas e para triagem de sinais de malignidade.
- Biópsia cutânea quando houver dúvida diagnóstica, suspeita de neoplasia ou falha terapêutica.
Sinais de alerta (encaminhar/solicitar exames)
- Lesão ulcerada, sangrante, de crescimento rápido ou com margens irregulares — suspeitar de neoplasia.
- Comprometimento extensivo, febre, linfangite ou compromisso sistêmico — considerar referência imediata.
- Suspeita de infecção fúngica profunda ou onicomicose extensa que não responde a terapia tópica — avaliar terapia sistêmica.
2. Diagnóstico diferencial e manejo básico por quadro
Acne
Identifique lesões inflamatórias (pápulas, pústulas, nódulos) e não inflamatórias (comedões). A gravidade orienta a conduta:
- Leve: terapia tópica (peróxido de benzoíla, retinoides tópicos, antibióticos tópicos quando indicado).
- Moderada a grave: considerar antibióticos orais (por tempo limitado) e retinoide oral conforme consenso (considere critérios para isotretinoína e monitorização). Para recomendações formais, os consensos da Sociedade Brasileira de Dermatologia são referência.
- Evitar uso prolongado e isolado de antibióticos sistêmicos sem associação a outras medidas.
Dermatite atópica
Quadro crônico com prurido intenso e lesões eczematosas, tipicamente em dobras em adultos. Manejo inicial no consultório:
- Hidratação regular com emolientes (rotina diária).
- Controle do prurido com anti-histamínicos sedativos à noite e corticoide tópico de potência adequada por períodos controlados.
- Em casos refratários ou com alto impacto, considerar fototerapia ou imunomoduladores sistêmicos conforme diretrizes atualizadas; consulte consenso de manejo terapêutico para indicação de terapias sistêmicas.
- A educação do paciente e identificação de desencadeantes (irritantes, alérgenos, estresse) são fundamentais.
Psoríase
Placas eritematosas com escamação; formas guttata, inversa e pustulosa exigem diferenciação. Manejo básico:
- Terapia tópica (corticosteroides, análogos da vitamina D) para formas localizadas.
- Fototerapia e terapias sistêmicas (metotrexato, ciclosporina, agentes biológicos) para formas moderadas a graves, ou quando há acometimento ungueal/articular.
- Avaliar impacto na qualidade de vida e comorbidades (psoriase tem associação com síndrome metabólica) para planejamento terapêutico.
Dermatofitoses
Sinais típicos: lesões anulares eritematosas e escamosas, pruriginosas. Manejo:
- Lesões limitadas: antifúngicos tópicos (azóis, terbinafina tópica).
- Doença extensa, couro cabeludo ou onicomicose: antifúngicos sistêmicos (terbinafina oral, itraconazol) e confirmação laboratorial quando necessário.
- Orientar medidas de higiene, evitar compartilhamento de itens pessoais e tratar contatos íntimos quando indicado.
- Para revisão prática sobre infecções fúngicas, recursos como DermNet NZ são úteis para imagens e diagnósticos diferenciais.
Urticária
Placas ou pápulas pruriginosas transitórias. Abordagem:
- Investigar e eliminar gatilhos (alimentos, medicamentos, infecções, frio, pressão).
- Tratamento de primeira linha: anti-histamínicos H1 de segunda geração em doses adequadas; dobrar dose em casos refratários conforme diretrizes até avaliação especializada.
- Urticária crônica persistente ou com sinais sistêmicos — encaminhar para avaliação alergológica/dermatológica.
Lesões pré-cancerígenas (ex.: queratose actínica)
Com frequência em áreas fotoexpostas. Manejo no consultório primário:
- Identificar e tratar precocemente: crioterapia para lesões isoladas, terapias tópicas (5-fluorouracil, imiquimode) ou procedimentos dirigidos para campos extensos.
- Educar sobre fotoproteção e monitorização; suspeita de transformação => biópsia.
- Diretrizes clínicas sobre manejo de lesões pré-cancerígenas auxiliam na escolha terapêutica e seguimento; consulte recomendações internacionais para atualização.
3. Manejo centrado no paciente, educação e seguimento
Além da prescrição, invista tempo em educação: explicação do diagnóstico, instruções sobre aplicação de tópicos, duração esperada de tratamento e sinais de alarme. Estratégias que melhoram adesão e resultados:
- Plano terapêutico escrito com duração e passos (ex.: quando reduzir corticoide tópico).
- Orientação sobre fotoproteção para prevenção de lesões fotoinduzidas e progressão de lesões pré-cancerígenas.
- Agendamento de retorno precoce em casos de terapias sistêmicas ou quando há risco de efeitos adversos.
- Sempre considere teledermatologia para revisões de imagens ou triagem quando a referência presencial não for imediata.
Recursos e referências práticas
Para alinhamento com consensos nacionais, considere materiais da Sociedade Brasileira de Dermatologia, incluindo consensos sobre isotretinoína, rosácea e manejo da dermatite atópica. Materiais de referência adicionais e revisões clínicas são úteis para atualização dos protocolos locais; veja também a nossa página sobre doenças dermatológicas: diagnóstico rápido e manejo básico e o conteúdo sobre manejo de dermatites e infecções superficiais para integrações práticas na atenção primária.
Fecho prático
No consultório, estabeleça um fluxo: triagem clínica, exames rápidos quando disponíveis (KOH, dermatoscopia), terapêutica escalonada por gravidade e critérios claros de encaminhamento. A combinação de diagnóstico cuidadoso, adesão ao tratamento e educação do paciente é a base para reduzir recorrências e complicações em dermatite atópica, psoríase, dermatofitoses e outras lesões cutâneas comuns. Para aprofundar triagem e abordagem ambulatorial, veja nosso material sobre dermatites de contato e estratégias de seguimento.
Links externos citados no texto: Sociedade Brasileira de Dermatologia (sbd.org.br), recursos sobre queratose actínica e lesões pré-cancerígenas na American Academy of Dermatology (AAD – actinic keratosis) e revisão prática sobre micoses cutâneas em DermNet NZ.