Manejo de doenças gastrointestinais funcionais

Manejo de doenças gastrointestinais funcionais

Introdução

Como identificar e tratar rapidamente condições como Síndrome do Intestino Irritável, dispepsia funcional e constipação funcional na clínica geral? Pacientes com sintomas abdominais crônicos são comuns na prática diária; uma estratégia prática, baseada em critérios clínicos e ações simples, reduz consultas repetidas, exames desnecessários e melhora a adesão terapêutica.

1. Diagnóstico prático: reconhecer e excluir sinais de alarme

Critérios clínicos

O diagnóstico das doenças gastrointestinais funcionais é majoritariamente clínico. Use os Critérios de Roma IV como referência para classificar sintomas: por exemplo, a SII costuma apresentar dor abdominal recorrente associada a alterações do hábito intestinal pelo menos 1 dia/semana nos últimos 3 meses. A anamnese dirigida permite identificar subtipos (predominância diarreia/constipação/ mista) e guiar terapias direcionadas.

Sinais de alarme que exigem investigação adicional

  • Perda ponderal não intencional
  • Hemorragia digestiva, anemia inexplicada
  • Início de sintomas após 50 anos
  • Sinais sistêmicos (febre persistente, icterícia)
  • História familiar de câncer colorretal ou doença inflamatória intestinal

Na ausência de bandeiras vermelhas, um conjunto básico de exames (hemograma, TSH quando indicado, PCR, fezes para sangue oculto) é suficiente inicialmente para excluir causas orgânicas.

Para um roteiro prático de avaliação inicial em queixas gastrointestinais inespecíficas, veja artigos relacionados como avaliação básica de queixas gastrointestinais inespecíficas e a abordagem prática da dor abdominal inespecífica.

2. Conduta prática na consulta: comunicação, educação e primeiro-line

Educação e vínculo

Explique que se trata de uma condição funcional: isso reduz estigma e ansiedade. Use linguagem clara: sintomas reais, mecanismos funcionais (hipersensibilidade visceral, dismotilidade, eixo intestino‑cérebro) e plano de acompanhamento. Estratégias de comunicação são essenciais para melhorar a adesão — consulte o conteúdo sobre educação terapêutica e adesão para ferramentas práticas.

Medidas não farmacológicas básicas

  • Modificações dietéticas: considere ajuste inicial de fibras, hidratação, e orientação sobre dieta com baixo teor de FODMAPs quando predominarem sintomas de SII. A retirada deve ser temporária e orientada por profissional de saúde.
  • Atividade física: incentivo a exercícios regulares — mesmo caminhadas diárias — melhora motilidade e bem‑estar.
  • Manejo do estresse: técnicas simples (respiração diafragmática, mindfulness) e encaminhamento para terapia cognitivo‑comportamental quando disponível, já que intervenção psicológica reduz sintomas em muitos pacientes.

Para material prático sobre dispepsia e refluxo, que frequentemente se sobrepõe a DGFs, consulte dispepsia: manejo inicial prático.

3. Orientações terapêuticas simples e individualizadas

Escolha baseada em predominância de sintomas

  • Dor abdominal e cólicas: antiespasmódicos por curto prazo (avaliar tolerabilidade e contraindicações).
  • Predominância constipação: aumentar fibras solúveis, laxantes osmóticos (p.ex. lactulose ou polietilenoglicol) conforme resposta; para constipação crônica refratária, revisar medicações e considerar encaminhamento.
  • Predominância diarreia: antidiarreicos (loperamida) em episódios agudos; para SII‑diarreia orientada por diretrizes, consulte recomendações farmacológicas.
  • Probióticos: podem ser considerados como adjuvante em alguns pacientes para modular microbiota; escolha baseada em evidência de cepas específicas quando possível.

As diretrizes específicas sobre farmacologia na SII com diarreia (recomendações baseadas em evidências) podem orientar escolhas de fármacos e estão disponíveis nas publicações da ACG; ver diretrizes ACG (via SOCGASTRO). Diretrizes nacionais e consensos também oferecem suporte para decisões locais — por exemplo, os consensos da GEDIIB e orientações do Ministério da Saúde.

Princípios de prescrição

  • Individualizar conforme predominância dos sintomas e comorbidades;
  • Iniciar medidas simples e testar por 4–8 semanas antes de escalonar;
  • Evitar polifarmácia desnecessária; revisar interações e efeitos adversos;
  • Registrar metas de melhora (p.ex. redução da dor em X/10, menor frequência de evacuações desconfortáveis).

4. Seguimento e critérios para encaminhamento

Combine acompanhamento programado (p.ex. retorno em 4–8 semanas) com orientações por telefone ou mensagens para ajustar medidas. Encaminhe ao gastroenterologista quando:

  • Presença de sinais de alarme;
  • Falha terapêutica após abordagem estruturada (incluindo dieta guiada e tentativa de terapias específicas);
  • Sintomas altamente incapacitantes ou perda de qualidade de vida significativa.

Para casos de constipação crônica complicados, o artigo constipação crônica: conduta prática traz um fluxo útil de tomada de decisão.

Fechamento prático

Na clínica geral, o manejo eficaz das doenças gastrointestinais funcionais combina um diagnóstico clínico baseado em Roma IV, exclusão de sinais de alarme, educação do paciente e intervenções simples: ajuste dietético (incluído o uso criterioso de dietas com baixo teor de FODMAPs), atividade física, técnicas de redução do estresse e terapias farmacológicas orientadas pela predominância dos sintomas. Use recursos locais e diretrizes (ACG, GEDIIB e Ministério da Saúde) para decisões farmacológicas e encaminhamentos. Para aprofundar a abordagem clínica e algoritmos práticos, veja também o conteúdo sobre SII: diagnóstico, manejo e acompanhamento.

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