Prevenção de quedas em idosos: avaliação e intervenções

Prevenção de quedas em idosos: avaliação e intervenções

Introdução

Quedas são uma das principais causas de morbidade em pessoas idosas — você já avaliou o risco de queda do seu paciente hoje? Dados populacionais mostram que até 30% dos idosos comunitários caem ao menos uma vez ao ano, com impacto físico, funcional e psicológico. Este guia prático direcionado a profissionais de saúde apresenta intervenções simples e baseadas em evidência: exercícios de equilíbrio, avaliação funcional e revisão de medicamentos, além de medidas ambientais e de educação.

1. Exercícios de equilíbrio: quais, como e com que frequência

A prescrição de atividade física é uma intervenção preventiva de alta efetividade. Programas que combinam treino de equilíbrio e fortalecimento do membro inferior reduzem quedas e melhoram a mobilidade. Entre as modalidades com evidência está o tai chi chuan, por sua ênfase em controle postural e movimentos lentos, e programas de resistência com elásticos ou pesos leves.

Recomendações práticas

  • Frequência: 2–3 vezes por semana, sessões de 30–60 minutos; aderência mínima recomendada: ≥ 3 meses para ganhos clínicos.
  • Componentes essenciais: treino de equilíbrio estático e dinâmico, marcha em diferentes superfícies, mudança de direção, e fortalecimento de quadríceps e glúteos.
  • Progressão: iniciar com apoio (cadeira/parede), progredir para apoio unilateral, superfícies instáveis (almofada) e tarefas cognitivas duplas (dual-task) conforme tolerância.
  • Exercícios simples a prescrever no consultório:
    • Elevação de calcanhares: 3 séries de 10–15 repetições.
    • Agachamento parcial apoiado: 3 séries de 8–12 repetições.
    • Equilíbrio unipodal: 3 x 20–30 segundos por perna (com apoio inicial se necessário).
    • Caminhada em linha reta (pé atrás do outro) 2–3 minutos, progressão para olhos fechados com supervisão.
  • Segurança: avaliar risco de síncope ou hipotensão ortostática, usar supervisão nas primeiras sessões e adaptar exercícios a déficits visuais ou cognitivos.

Para programas comunitários e integração com reabilitação local, consulte recursos e modelos de intervenção em atenção primária, como o artigo sobre prevenção e manejo de quedas na comunidade disponível no nosso blog: prevencao-manejo-quedas-idosos-comunidade.

2. Avaliação funcional orientada à intervenção

A triagem e a avaliação funcional guiam a escolha de intervenções. Use ferramentas validadas e combine com exame clínico para identificar contribuintes reversíveis de risco de queda.

Ferramentas rápidas e interpretação

  • Timed Up and Go (TUG): >12–15 segundos sugere risco aumentado de quedas; útil para triagem em consultório.
  • Escala de Equilíbrio de Berg: sensível para alterações no equilíbrio postural; pontuação baixa indica necessidade de reabilitação intensiva.
  • Short Physical Performance Battery (SPPB): avalia força, velocidade de marcha e equilíbrio; pontuações ≤9 associam-se a fragilidade e maior risco de quedas.

Além dos testes, inclua avaliação de:

  • Marcha (velocidade de marcha <0,8 m/s é preditora de eventos adversos).
  • Ortostatismo: medir PA supino, sentado e em pé; investigar tontura ao levantar.
  • Visão, sensação plantar e neuropatia periférica.
  • Estado cognitivo e presença de sintomas depressivos que afetam aderência e marcha.

Para fluxos de triagem e integração com equipes de reabilitação em APS, veja materiais de referência e protocolos locais, por exemplo: prevencao-quedas-idosos-aps-triagem-intervencoes e avaliacao-manejo-quedas-idosos-comunidade no nosso blog.

3. Revisão de medicamentos e gestão da polifarmácia

A revisão de medicamentos é uma das ações de maior impacto para reduzir risco de queda. Medicamentos que causam sedação, tontura, hipotensão ou efeitos anticolinérgicos aumentam a probabilidade de eventos.

Foco clínico e passos práticos

  • Priorize revisão em pacientes com polifarmácia (≥5 fármacos) ou história prévia de queda.
  • Principais classes associadas a quedas: benzodiazepínicos, antipsicóticos, antidepressivos (principalmente mirtazapina e ISRS em alguns estudos), sedativos, opioides e alguns anti-hipertensivos que causam hipotensão.
  • Avalie carga anticolinérgica e interações: use reconciliacão medicamentosa e ferramentas locais para pontuação de anticolinergicidade.
  • Estratégia: reduzir dose, espaciar horários, substituir por alternativas mais seguras (p. ex. terapia não farmacológica para insônia/ansiedade), e planejar desprescrição com monitorização.
  • Documente objetivos e envolva paciente/cuidadores: explique benefício esperado (menos tontura, sono mais restaurador, menor risco de queda) e crie plano de seguimento.

Para orientação sobre gestão da polifarmácia e desprescrição segura, integre a revisão medicamentosa aos grupos de intervenção local e protocolos de segurança de prescrição.

4. Adaptações ambientais e educação

Intervenções no domicílio complementam exercícios e revisão medicamentosa. Recomende:

  • Remover tapetes soltos e obstáculos; melhorar iluminação de corredores e escadas.
  • Instalar barras de apoio em banheiro e ao lado de camas; usar calçados com sola antiderrapante.
  • Programas educativos para pacientes e cuidadores sobre sinais de risco (tontura, medicação nova, alterações de marcha) e quando procurar atendimento.

Combinar avaliação funcional, prescrições de exercícios e revisão farmacológica com intervenções ambientais e educação aumenta a efetividade das ações preventivas.

Referências e leituras recomendadas

Material prático e revisões sobre exercícios e prevenção podem ser usados como base para programas locais. Para evidências sobre exercícios e medidas preventivas veja uma síntese acessível sobre estratégias comunitárias de prevenção de quedas; a discussão sobre avaliação funcional e técnicas de reabilitação está bem sumarizada em publicações especializadas. Fontes consultadas incluem revisão prática sobre exercícios e prevenção (ex.: idoso.com.br), discussão sobre ferramentas de avaliação e fisioterapia (artmed.com.br) e análises sobre fatores de risco e prevenção (efdeportes.com).

Fechamento prático

Na prática clínica, combine 3 ações simples e mensuráveis: 1) triagem funcional com TUG/SPPB e intervenção baseada em resultados; 2) prescrição de exercícios de equilíbrio e fortalecimento com metas de adesão; 3) revisão sistemática de medicamentos com plano de desprescrição quando indicado. Monitore quedas, velocidade de marcha e independência nas atividades de vida diária. Implementações em atenção primária, com encaminhamento a fisioterapia e colaboração farmacêutica, potencializam a redução de quedas e preservam autonomia do idoso.

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