Troponina elevada sem infarto: guia para encaminhamento

Troponina elevada sem infarto: guia para encaminhamento

Texto dirigido a profissionais de saúde. Este guia prático aborda a interpretação de troponina elevada em contextos não isquêmicos, as causas diferenciais mais frequentes (por exemplo, myocardite, embolia pulmonar, insuficiência renal crônica), a estratégia diagnóstica baseada em hs-troponina e ECG e os critérios para encaminhamento seguro ao cardiologista ou a outras especialidades.

Troponina elevada sem infarto: o que significa

Troponina é um marcador de lesão miocárdica. As versões de alta sensibilidade (hs-troponina) detectam pequenas elevações, aumentando a identificação de injúria miocárdica que nem sempre representa infarto agudo do miocárdio (IAM). Para diagnosticar IAM, além de ao menos um valor acima do percentil 99, é necessária uma variação dinâmica (elevação/queda) e evidência clínica de isquemia (sintomas compatíveis, alterações no ECG ou imagem que demonstre nova perda de função regional).

hs-troponina: interpretação e dinâmica

A dinâmica temporal é crucial. Protocolos com medidas seriadas (por exemplo 0h/1-3h ou 0h/3h/6h conforme rotina local) ajudam a distinguir lesão aguda de elevação crônica. Valores levemente aumentados e estáveis costumam sugerir lesão crônica (frequente em insuficiência renal crônica), já um aumento acentuado com subida/queda rápida aponta para lesão aguda — que pode ser isquêmica (SCA) ou não isquêmica (myocardite, sobrecarga ventricular, sepse).

Como interpretar troponina alta sem infarto: passos práticos

  • Passo 1 – histórico e exame físico: identifique dor torácica típica, dispneia, síncope, febre, sinais de infecção ou choque; pergunte sobre DRC, ICC prévia, coronariopatia conhecida e uso de drogas.
  • Passo 2 – ECG imediato: procure sinais de isquemia (elevação ou depressão de ST, inversão de onda T nova), arritmias ou alterações que justifiquem conduta imediata. Um ECG normal não exclui lesão miocárdica.
  • Passo 3 – troponinas seriadas: avalie a variação (rise/fall) usando hs-troponina; calcule mudança percentual absoluta conforme protocolo local para definir lesão aguda.
  • Passo 4 – investigar causas não isquêmicas: solicite creatinina/clearance, BNP ou NT-proBNP (insuficiência cardíaca), gasometria e D-dímero se houver suspeita de embolia pulmonar, hemoculturas/septis se houver suspeita de sepse, e sorologias/imagem se houver suspeita de myocardite.
  • Passo 5 – imagem cardíaca dirigida: ecocardiografia para avaliar função ventricular e disfunção regional; ressonância magnética cardíaca quando a suspeita for myocardite ou cardiomiopatia inflamatória.

ECG, ecocardiografia e ressonância

ECG e ecocardiografia são exames de primeira linha. A ecocardiografia identifica redução de fração de ejeção, movimento paradójico de parede ou sobrecarga do ventrículo direito (sugestivo de embolia pulmonar). A ressonância magnética é útil para confirmar myocardite, caracterizar fibrose ou diferenciar infarto de lesão inflamatória.

Fluxo de decisão e encaminhamento

  1. Alto risco/instabilidade: dor torácica típica + elevação dinâmica de troponina ou alterações isquêmicas no ECG → manejar como SCA e encaminhar imediatamente para internação e cardiologia.
  2. Elevação sem evidência de isquemia: avaliar causas alternativas (myocardite, embolia pulmonar, insuficiência renal crônica, sepse). Se persistir dúvida diagnóstica ou houver evolução dinâmica, solicitar avaliação cardiológica em 24–48 h.
  3. Elevação crônica sem sintomas: paciente estável, troponina discretamente elevada e sem variação → investigar com exames ambulatoriais, otimizar manejo das comorbidades e agendar retorno para revisão e ecocardiograma.

Causas frequentes de troponina elevada sem infarto

  • Myocardite: frequentemente com dor torácica e elevação de troponina; RM cardíaca auxilia no diagnóstico.
  • Embolia pulmonar: troponina elevada por sobrecarga do VD; procure dispneia súbita, dor pleurítica e sinais de tromboembolismo.
  • Insuficiência cardíaca aguda ou crônica: elevação basal de troponina é comum em ICC descompensada.
  • Insuficiência renal crônica: elevações leves e persistentes podem refletir clearance reduzido e dano microvascular crônico.
  • Sepse e choque: injúria miocárdica por disfunção sistêmica e inflamação.
  • Isquemia por demanda, vasoespasmo ou microtrombose: podem elevar troponina sem necrose extensa detectável.

Comunicação e documentação

Explique ao paciente que a troponina é um marcador de lesão cardíaca, mas nem toda elevação equivale a infarto. Registre a hipótese diagnóstica, condutas adotadas (medidas seriadas de troponina, ECG, exames de imagem) e o plano de encaminhamento ou seguimento.

Recursos práticos e referências internas

Para integrar a avaliação da troponina no manejo da dor torácica, consulte os artigos de triagem e encaminhamento relacionados, por exemplo: o protocolo para dor torácica não aguda: avaliação e encaminhamento, a avaliação inicial de dor torácica em consultório e a orientação sobre dor torácica ambulatorial: triagem e encaminhamentos. Para prevenção e manejo de fatores de risco cardiovasculares que influenciam o risco isquêmico, veja também avaliação, manejo e prevenção cardiovascular na APS.

Troponina elevada sem infarto: recomendações práticas para o dia a dia

Adote medidas seriadas de hs-troponina, integre achados do ECG e da imagem, e busque causas não isquêmicas (myocardite, embolia pulmonar, insuficiência renal crônica, sepse). Encaminhe para cardiologia quando houver elevação dinâmica com etiologia incerta, disfunção ventricular ou necessidade de exames complementares (ecocardiografia ou RM cardíaca). Em pacientes estáveis com causa provável não isquêmica, trate a condição de base e planeje acompanhamento ambulatorial. A comunicação clara com a equipe e com o paciente reduz internações desnecessárias e melhora a segurança do cuidado.

Observação: recomendações baseadas em evidências e diretrizes vigentes. Verifique protocolos locais e atualizações científicas para adaptação institucional.

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