Prevenção de quedas na atenção primária
Introdução
Quedas em idosos são frequentes e com impacto significativo: cerca de 1 em cada 3 pessoas >65 anos cai anualmente, aumentando para ~40% a partir dos 80 anos. Dados populacionais reforçam a necessidade de ações na atenção primária: veja análise jornalística sobre o papel dos exercícios na prevenção e recuperação (Agência Brasil/EBC). Este texto, dirigido a profissionais de saúde, sintetiza como avaliar, prescrever intervenções simples de mobilidade e exercícios e integrar medidas ambientais e educativas na rotina da APS.
Avaliação prática na atenção primária
Triagem inicial — identificar risco e prioridade
Na consulta, faça uma anamnese focada (histórico de quedas, lesões, sintomas de tontura, uso de medicações sedativas, alterações visuais ou auditivas, limitação de mobilidade). Use testes funcionais rápidos para estratificar risco e decidir intervenções e encaminhamentos: Timed Up and Go (TUG), 30-second chair stand, teste dos 4 estágios de equilíbrio e avaliação da marcha. Protocolos e fluxos para triagem em APS estão disponíveis no nosso guia prático: Triagem e manejo de quedas.
Avaliação de fatores modificáveis
- Rever polifarmácia e medicamentos de risco (benzodiazepínicos, antipsicóticos, opioides): encaminhar para revisão de medicamentos e desprescrição quando indicado (desprescrição segura).
- Avaliar força de membros inferiores e sinais de sarcopenia — indicadores que orientam necessidade de fisioterapia ou exercício direcionado (sarcopenia na APS).
- Identificar causas secundárias de queda: hipotensão ortostática, neuropatia periférica, problemas visuais — encaminhar conforme necessidade, por exemplo para avaliação otorrinolaringológica ou oftalmológica.
Intervenções de exercício: prescrição prática e exemplos
Princípios gerais
Programas que combinam fortalecimento muscular, treinamento de equilíbrio e prática funcional reduzem o risco de quedas. Revisões disponíveis em periódicos de enfermagem e saúde pública sustentam a eficácia dessas intervenções na atenção primária (Acta Paulista de Enfermagem) e em sínteses bibliográficas do CONASS (CONASS).
Exercícios simples (fáceis de ensinar na APS)
- Sit-to-stand (levantarse de uma cadeira): 1–3 séries de 8–15 repetições. Progresso: reduzir suporte das mãos, usar cadeira mais baixa.
- Marcha no lugar e elevação de joelhos: 1–2 minutos, melhora coordenação e endurance.
- Elevação de gémeos (calf raises): 2–3 séries de 10–15 repetições para fortalecer cadeia posterior e melhorar estabilidade.
- Equilíbrio estático: apoio unipodal (10–30 s por lado), tandem stance e marcha em calcanhar/ponta para treino de propriocepção.
- Exercícios funcionais que simulam atividades diárias (subir degrau, curvar-se para pegar objeto) devem ser incorporados para transferir ganhos à vida real.
Dose recomendada na APS: fortalecimento 2x/semana (mín. 8–12 semanas) + exercícios de equilíbrio 3–7x/semana (curtas sessões diárias são efetivas). Ajuste intensidade e complexidade com base na avaliação funcional e segurança.
Segurança e sinais de alerta
- Avaliar presença de tontura, síncope ou arritmia prévia; se presentes, investigar antes de iniciar programa intenso (avaliação inicial de tontura).
- Instruir sobre ambiente seguro para exercícios (cadeira estável, superfície não escorregadia, presença de um familiar quando necessário).
- Registrar evolução funcional (TUG, 30s chair stand) para monitorizar resposta e decidir encaminhamento para fisioterapia quando não houver progresso.
Adaptação ambiental e educação
Medidas domiciliares simples
Intervenções no domicílio são complementares aos exercícios: instalar corrimãos e barras de apoio no banheiro, remover tapetes soltos, melhorar iluminação, recomendar calçados com sola antideslizante. Essas medidas fazem parte de intervenções multifatoriais eficazes na prevenção de quedas; combine-as com exercício e revisão de medicação para maior impacto (evidência sistemática).
Educação para idosos e cuidadores
- Explicar risco de quedas de forma concreta (números, consequências) e destacar benefícios de exercícios físicos para idosos e pequenas adaptações.
- Ensinar exercícios em consulta e fornecer folheto com ilustrações ou link para vídeos. Programas comunitários e grupos de exercício aumentam adesão.
- Promover acompanhamento periódico e registro de quedas para ajustar plano.
Papel da equipe da atenção primária e integração
Organização do cuidado
Na APS, a prevenção de quedas exige trabalho em equipe: médico, enfermeiro, fisioterapeuta, agentes comunitários e assistente social. Estruture fluxos para triagem, prescrição de exercícios, visitas domiciliares para avaliação ambiental e encaminhamento a reabilitação quando necessário. Consulte material do blog sobre estratégias de intervenção ambulatorial e triagem: Prevenção de quedas na APS: triagem e intervenções e avaliação e intervenções simples.
Encaminhamentos e monitorização
Encaminhe para fisioterapia quando houver limitação funcional significativa, quedas recorrentes ou necessidade de treino supervisionado. Registre metas funcionais (ex.: subir escada sem apoio) e reveja a cada 8–12 semanas. Para programas comunitários ou ambulatoriais de reabilitação, utilize o fluxo local e as referências do serviço: avaliação e reabilitação.
Fechamento — como aplicar hoje na prática clínica
Resumo prático para a consulta na APS:
- Realize triagem rápida (história de queda + TUG ou chair-stand).
- Instrua 3–5 exercícios simples (sit-to-stand, elevação de gémeos, equilíbrio unipodal) e combine com revisão de medicação.
- Oriente adaptações ambientais e envolva cuidador/familiar.
- Documente metas funcionais e marque retorno em 8–12 semanas; encaminhe para fisioterapia se falta progressão.
Para aprofundar práticas e fluxos na APS, consulte os guias do blog sobre intervenções ambulatoriais e avaliação e reabilitação. Lembre-se: combinar mobilidade e equilíbrio na terceira idade com ajuste do ambiente e educação é a abordagem mais efetiva para reduzir quedas e manter autonomia dos idosos.
Referências e leitura adicional: revisão sistemática sobre intervenções na APS (Acta Paulista de Enfermagem), síntese bibliográfica do CONASS (CONASS) e reportagem com dados populacionais e benefícios dos exercícios (Agência Brasil/EBC).